quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Postura e emoções, um eterno diálogo!

A mente e o corpo são conectados inequivocamente. A tristeza que pesa uma tonelada, a depressão que amolece, o estresse que enrijece. As emoções vivenciadas no cotidiano podem ficar marcadas no esqueleto, nos músculos, nas articulações. Muito do que foi vivido ficará inscrito no corpo e, muitas vezes, essa inscrição se dará como uma diminuição de amplitude do movimento, numa desorganização da estrutura corporal, em um sentir que nosso corpo parece estar em desequilíbrio. Na Integração Estrutural – conhecida também como Método Rolf – o chamado desequilíbrio corporal é, de fato, uma desorganização do corpo em relação à gravidade da terra.

Este método da educação para o movimento consciente, desenvolvido pela cientista norte-americana Ida  Rolf, mostra que nos diferenciamos e evoluímos ao nos integrarmos de uma forma mais eficiente à gravidade, ao impulso vertical. “Sempre que a vida se diferencia em direção a um grau de ordem maior, mais complexo, o impulso vertical torna-se mais aparente e mais significativo”,  disse Ida.

Em sua essência, o que Rolf defende é similar aos conceitos do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung sobre o processo de individuação; sobre o caminhar para a totalidade a partir do centro regulador, que ele chama de Self. “De modo geral, é um processo pelo qual os seres individuais se formam e se diferenciam; em particular, é o desenvolvimento de um individuo psicológico como um ser distinto da psicologia geral e coletiva”, falou.

Em vários pontos, os princípios de Ida e Jung parecem combinar, apontar na mesma direção. Apesar de partirem de objetos de estudo diferentes, o corpo e a psique, marcam o mesmo sentido quando defendem que estamos determinados a evoluir, a nos tornarmos integrados. O Self, segundo Jung, assim como a gravidade, segundo Ida, são princípios estruturantes que tendem a induzir o indivíduo a um grau de organização mais eficiente, mais diferenciado e particular.

São princípios inatos, não estão à mercê dos desejos do ego, em ambos os casos, não podem ser “dominados”, mas sim, reconhecidos e, através de processos particulares, facilitados na sua atuação. Para Dra. Ida Rolf é através do processo de criar espaço, de liberar os chamados “espinhos cravados na carne”, que o corpo caminha para uma local mais equilibrado com o campo gravitacional. A estrutura física reconhece seu local de maior poder energético e “salta” para um grau de organização maior.

Mais que massagens, a manipulação profunda dos tecidos e já citada educação postural da Integração Estrutural levam a uma maior integridade e ressonância perante as questões de ordem mental e emocional. Ou seja, o corpo não muda isoladamente, todo o indivíduo é transformado. Ao tocar no sujeito corporal, acessamos o sujeito mental também.

Já para Jung, a atuação do Self, os desdobramentos psíquicos, poderiam ser revelados e facilitados através do uso de imagens, de expressões simbólicas como elementos do próprio processo de recriação de si mesmo. Segundo o psiquiatra, um trabalho terapêutico acontece não só através da palavra, mas também com a possibilidade de traduzir em imagens, de “tornar consciente as imagens que residem por detrás das emoções”.

Talvez seja este um novo campo investigativo, uma nova perguntar, uma nova questão a ser abordada. Que formato pode ser possível de trabalho com a Integração Estrutural e o desdobramento das imagens simbólicas trazidas nas teorias de Jung? De que forma esses dois trabalhos podem dialogar? 

Mesmo tendo a certeza de que ambos os processos são em si autônomos e completos, que no seu corpo teórico e conceitual encerram em si objetivos e métodos particulares. Fica um desejo de aprofundar e investigar mais a possibilidade deste diálogo, desta troca entre as imagens e as sensações corporais. Permanece um olhar “curioso” na possibilidade do encontro do corpo como símbolo, e do símbolo como corpo. Da Gravidade como o Self e do Self como a Gravidade.

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